Colégio Estadual Dinah Gonçalves
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Divulgação/Editora Record
Panoramix, o druida, um remoto ancestral dos químicos de hoje
Os cientistas modernos, em geral, não gostam de esoterismos e têm suas razões para isto. A ciência atual se baseia na teorização e experimentação, sendo que uma teoria publicada só é tida como válida pela comunidade científica após seus métodos e resultados serem reproduzidos por vários pesquisadores independentes entre si.
Ou seja, fazer ciência nestes tempos de alta tecnologia é um ato social que exige muita apresentação, divulgação e debate dos especialistas que defendem novas teorias junto aos seus pares. Nesse ambiente, fica claro que a imagem de homens solitários, triturando componentes e misturando poções, enfurnados em velhos laboratórios pareçam mais próximos da bruxaria que da pesquisa científica.
Além disso, há hoje em dia tanta gente querendo dar autoridade científica ao último misticismo da moda, que os cientistas de verdade preferem passar léguas longe de qualquer associação com esta turma.
Misticismo e ciência
Se os cientistas preferem manter os holismos da Nova Era do lado de fora de seus locais de pesquisa, não há como negar a rica herança vinda de tempos passados, quando a distinção entre o científico e o místico era quase nenhuma.
É nessas épocas - quando quem estudava os céus eram astrólogos em busca de presságios e não astrônomos em busca de quasares -, que um ramo especial da ciência, a química, encontra sua origem e identidade na arte dos antigos alquimistas, os primeiros mestres dos elementos.
Historicamente a química é a ciência que estuda as substâncias, suas propriedades, como se combinam e transformam. Historicamente pois, desde que se descobriu que as reações químicas são a face visível das interações entre átomos e que estas interações, por sua vez, são produzidas por mecanismos eletromagnéticos e quânticos, as fronteiras últimas entre a química e a física modernas se tornaram um tanto difusas.
Longa tradição
Mesmo assim, ninguém se atreve a propor que a química seja rebaixada para o status menor de ramo especialista da física. Em parte por conta da longa tradição que os químicos construíram ao longo dos séculos, com suas técnicas, instrumental e habilidades próprios, desenvolvidos e aperfeiçoados por muito tempo antes dos gás-cromatógrafos e dos espectrofotômetros de absorção atômica.
E no início desta longa tradição encontramos justamente aqueles bruxos esquisitos, que pretendiam fazer maravilhas como transformar chumbo em ouro ou descobrir o segredo da imortalidade.
Paracelso
Suas teorias e métodos podem parecer não lá muito ortodoxos aos químicos de hoje quando lemos que Paracelso acreditava que podia sintetizar gente em laboratório, os homunculus, a partir de matérias primas mais frequentemente usadas para a produção de fertilizantes.
Mas basta lembrarmos que o mesmo Paracelso, em uma época em que todos acreditavam que as doenças eram manifestações de um organismo desregulado, propôs que as moléstias eram causadas por agentes externos ao corpo e que deveriam ser tratadas com o uso de medicamentos químicos.
Só por isto, não apenas os químicos, como médicos e farmacêuticos já ficam devendo uma concessãozinha que seja ao alquimista suíço.
A Pedra Filosofal
A lista dos alquimistas, ou pelo menos daqueles que se envolveram com a alquimia, inclui personagens que se tornaram imortalmente célebres em outras áreas como são Tomás de Aquino, Francis Bacon e sir Isaac Newton.
Mas o nome que mais naturalmente é associado à alquimia é o do francês Nicolau Flamel, cuja biografia é praticamente uma narrativa épica da busca à Pedra Filosofal, onde fatos e lendas se misturam.
Alquimistas
Os alquimistas eram os mestres de uma tradição hermética, que acreditavam que forças sobrenaturais, quando corretamente invocadas, influenciavam nas transformações da matéria.
Mas também eram químicos meticulosos no sentido moderno da palavra. Técnicos preocupados com a exatidão da pesagem, a pureza da amostra, a temperatura certa da reação, a granulometria ideal do pulverizado.
Ou talvez devamos dizer que os químicos modernos é que são alquimistas meticulosos no sentido tradicional da palavra, afinal, os alquimistas vieram primeiro.
Carlos Roberto Lana é professor e engenheiro químico.
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