Introdução:
O ciclo da cana-de-açúcar foi a primeira atividade economicamente organizada do Brasil. A partir da fundação do primeiro engenho de cana-de-açúcar pelo Sr Martins Afonso de Souza, em 1532, e por mais de dois séculos o açúcar foi o principal produto brasileiro, convivendo, contribuindo e, às vezes, resistindo às mudanças sócio-politico-culturais deste período.
Este estudo visa resgatar o período de reinado do açúcar, enquanto “embaixador” do Brasil, colônia portuguesa recém descoberta e sem maior expressividade ou mesmo importância econômica, na Europa dos séculos XVI a XIX.
Serão enfocados, neste trabalho, características como motivo, facilitadores, dificultadores, pressões, conflitos e conseqüências decorrentes do ciclo da cana-de-açúcar.
A necessidade de colonizar a terra para defendê-la e explorar suas riquezas fizeram com que o Governo de Portugal instalasse engenhos produtores de açúcar no nosso litoral, essa cultura foi escolhida por se tratar de um produto de alto valor no comércio europeu e por seu consumo crescente na Europa.
Logo, após as dificuldades de sua implantação - a falta de dinheiro para montar a moenda, comprar escravos, refinar o açúcar e sobretudo transportá-lo nos mercados consumidores da Europa - o açúcar tornou-se o principal produto brasileiro e foi a base de sustentação da economia e da colonização do Brasil durante os século XVI e XVII.
Já no século XVIII o surgimento do açúcar de beterraba e a formação dos conhecimentos e técnicas para construção de uma indústria açucareira por parte dos holandeses fizeram com que nosso principal produto entrasse em decadência e perdesse mercado consumidor na Europa. Assim, acabaria o monopólio do açúcar e alteraria o quadro político-econômico da época em nosso país.
Surgimento da Economia Açucareira:
No início da colonização Brasileira o governo metropolitano resolveu estimular alguns portugueses a instalarem engenhos para produzirem açúcar no litoral do Brasil. Era preciso efetivar a aposse da terra para defendê-la e também explorá-la em suas riquezas. Optou-se pela cana de açúcar por se tratar de uma cultura rápida, chegando ao corte a partir do segundo ano e também devido ao tipo de solo existente, o massapé excelente para o plantio de cana. Além disso o Nordeste, por sua localização estratégica, permitia fácil escoamento do açúcar produzido estando mais próximo dos mercados consumidores. Outro fator que contribuiu na decisão de cultivar a cana, foi o preço do açúcar alcançado no comércio europeu.
O consumo do açúcar , em ascendência na Europa, logo seria o principal produto Brasileiro - séculos XVI e XVII - tornando o açúcar a base de sustentação da economia e da colonização do Brasil durante estes períodos.
A utilização do açúcar como adoçante, em substituição ao mel, causou na Europa do século XVI uma revolução comportamental e comercial uma vez que o produto era usado anteriormente apenas como remédio. Esse Fato destacou o Brasil, como grande produtor de açúcar, no mercado europeu.
A cultura da cana de açúcar propiciava aos donatários de terras da ocupação das mesmas pois povoados se formavam em torno dos engenhos. O primeiro engenho foi instalado por Martins Afonso de Souza, em 1532.
Foram grandes as dificuldade encontradas para desenvolver o ciclo do açúcar, tais como: dinheiro para montar as moendas, comprar escravos, transportar os colonos brancos, comprar navios para transportar os equipamentos e sustentar os trabalhadores até que a produção do açúcar desse lucro, além da preocupação com o refino e comercialização do produto.
Os holandeses surgem, então, como financiadores, transportadores e negociadores do nosso açúcar no mercado consumidor europeu. Podemos dizer que foram os holandeses o maiores beneficiados de forma lucrativa com o nosso açúcar.
A produção do açúcar no brasil se tornou motivo de grandes invasões, como as holandesas ocorrida em Pernambuco, maior produtor de açúcar. Estas invasões resultaram em grande perda de engenhos, muitos destruídos, causando um retrocesso na economia, que logo se recuperou pois o declínio da mineração, no final do de século XVII, permitiu um novo florescimento da economia açucareira, não só em Pernambuco, e na Bahia onde era tradicional, mas também na região de Campos e em algumas zonas de São Paulo. Essa economia teve como classe dominante os grandes proprietários senhores de engenho, que eram também os donos de escravos (classe dominada) e os donos do poder.
Desenvolvimento da Economia Açucareira:
Os centros urbanos que se desenvolveram em áreas especializadas na cultura da cana e no fabrico do açúcar foram, no Brasil, os pontos que se tornaram os mais desenvolvidos em valores da nossa cultura moral, intelectual, religiosa, científica e artística.
Em 1560, Portugal ganhava ascendência no comércio europeu, com o açúcar fabricado no Brasil. Com o êxito do açúcar no comércio, o governo português incentivou a expansão das fábricas em sua colônia tropical americana. Com isso Portugal estava, com estímulos oficiais, desenvolvendo a economia brasileira. Lavoura extensivas de cana-de-açúcar surgiram para alimentar os engenhos. Estes por sua vez eram instalados à beira-mar ou nas proximidades dos rios por necessidade não só de seu funcionamento como também pela questão de transporte do produto. Ao lado do canavial, nascia a agricultura de subsistência, para atender a crescente necessidade de alimentos para a casa grande, a senzala e a pequena parcela de assalariados livres. A propriedade rural, verdadeiro feudo, era, então, assim formada:
A casa-grande onde vivia o senhor com sua família, exercendo grande autoridade sobre todos. Era um verdadeiro patriarca.
A senzala era uma grande construção onde os negros escravos viviam miseravelmente, tratados como animais e sujeitos a toda a sorte de violência e castigos.
A capela onde se realizavam as cerimônias religiosas. Além, de centro religioso, a capela era um centro social, pois nela se reuniam todos os homens livres do engenho e das proximidades.
E a moenda, onde a cana-de-açúcar era moída. O caldo corria da moenda para os tachos por meio de calhas. Dos tachos, o caldo era retirado em vasilhas de cobre e levado para a caldeira, onde era fervido e mexido pelos escravos, que tiravam as impurezas e a espuma.
O rápido desenvolvimento da indústria açucareira, fez com que o governo português não se limitasse só a fabrica de moenda e engenho de água, mais numa busca rápida desta lavoura, graças à uma abundante mão-de-obra indígena existente já nas colônias deste século ligada a essa atividade. O começo da colonização se deu em pequenas comunidades que teve importante papel na especialização de mão-de-obra dos escravos. Logo depois veio a mão-de-obra dos escravos africano, que chegou para a expansão da empresa, quando os lucros já se encontravam assegurados. Era um sistema de produção rentável e capitalizado.
Durante o ciclo do açúcar ocorreu a ocupação Holandesa no Brasil. Desde o início do ciclo do açúcar, notava-se o interesse comum entre portugueses e flamengos. Logo após a ocupação holandesa em 1580, os flamengos começaram a trabalhar em Pernambuco registrando-se uma exportação de 512.273 arrobas de açúcar branco, mascavo e “de panela”. Foram também os Holandeses que trouxeram as moedas metálicas para o Brasil.
Durante o domínio holandês foi estimulada a imigração, para Pernambuco e capitanias vizinhas, de europeus qualificados como senhores de engenho ou agricultores, entre eles muitos judeus ricos, oriundos da Holanda, da Alemanha, da Hungria e da Polônia, os quais também adquiriram seus engenhos.
Quando Portugal conseguiu finalmente expulsar os flamengos, que haviam passado a dominar o processo de fabricação do açúcar, estes foram para as Antilhas e lá desenvolveram a produção do açúcar. Assim, Brasil e Antilhas assumiram, durante os séculos XVII e XVIII, o papel de abastecedores de açúcar para o mercado europeu.
Desarticulação da Economia Açucareira:
Quando Portugal foi absorvido pela Espanha modificou-se profundamente o quadro político-econômico do Brasil, surgindo o interesse da Holanda em controlar o comércio do açúcar. Desse interesse surge uma guerra sem quartel contra a Espanha. Como efeito dessa guerra temos o controle, por parte dos holandeses, do transporte e comercialização de açúcar na Europa do século XVII.
Do século XVIII ao XIX o açúcar continuou a ter importância na economia do nosso país, embora o café viesse a se tornar o principal produto brasileiro. Mas pouco a pouco o açúcar perdeu mercado e foi deixando de ser a base de sustentação da nossa economia.
Outros acontecimentos que prejudicaram o açúcar brasileiro foram o Bloqueio de Napoleão Bonaparte contra os navios ingleses transportadores de açúcar do nosso continente para o mercado consumidor europeu e o aparecimento do açúcar de beterraba, o chamado “açúcar alemão”. Esse novo produto foi utilizado pelos países consumidores como um produto substituto ao açúcar da cana, ocorrendo o agravamento da crise do nosso açúcar e os maus efeitos decorrentes da monocultura latifundiária em nossa economia.
Com todos esses problemas e com o descaso do Governo de Portugal em relação a sua colônia ocorreu a desarticulação da economia açucareira no Brasil, isso tendo como forte aliado: o preconceito em relação ao clima e a relação de inferioridade do nosso povo. Em suma, alimentávamos, em relação a nós próprios, praticamente todos os preconceitos e aprendemos a valorizar e admirar o alheio, o que é estrangeiro, e menosprezar o que é nosso, chegando a ter vergonha de nós mesmos.
Encerramento da Economia Açucareira:
A guerra realizada pela Holanda contra a Espanha modificou a nossa colonização, os grandes beneficiados foram os holandeses que passaram a ter praticamente todo o comércio dos países europeus realizado por mar, pois, era o meio de transporte mais rápido e importante da época. Sendo que, no Brasil, os batavos detiveram o controle da produção do açúcar, sendo um grande modificador para nossa economia.
Os holandeses, enquanto estiveram no Brasil, adquiriram todo o conhecimento de técnicas e organizações da indústria açucareira, pois, era isso o que eles precisavam para implantarem uma nova base industrial. A partir desse momento, estaria perdido o monopólio e alterado os dois grupos representativos da época, os portugueses produtores e os holandeses financiadores.
Assim, a partir de meados do século XVIII e durante todo o século XIX, o preço do açúcar permaneceu reduzido à metade. Sem recursos próprios para conter a desvalorização do açúcar o Governo de Portugal e os produtores portugueses mudam atenção para o café, no século XIX.
Dessa forma houve no próprio funcionamento do ciclo do açúcar, elementos negativos que impediram sua viabilidade ao progresso. Ocorrendo, então, o encerramento do monopólio da economia açucareira que manteve sua importância, porém deixou de ser o principal produto e a base de sustentação da economia brasileira.
A essa altura já se ia encerrando o ciclo do açúcar tendo como conseqüência o êxodo da população para a região de mineração no interior do Brasil.
Conclusão:
A cultura do açúcar surgiu, no Brasil, pela necessidade de colonizar a terra, para defendê-la e para explorar suas riquezas.
A importância dessa cultura pode ser exemplificada pelo interesse dos holandeses, que atravessaram mares para invadir Pernambuco, à época maior produtor de açúcar. Mesmo quando expulsos, os holandeses não abandoaram a produção de açúcar. Optaram pela transferência do know how do cultivo da cana e refino do produto para as Antilhas que, ao lado do Brasil, dominaram o comércio de açúcar na Europa nos séculos XVII e XVIII.
Embora essa cultura tenha sido responsável pela base de sustentação da economia e da colonização do nosso país durante os século XVI e XVII, o governo português não assegurou à sua colônia condições para manutenção do monopólio sobre seu domínio, que primeiro passa aos holandeses e posteriormente é compartilhado com os mesmos.
Também contribui para o declínio do produto a perda de importância do mesmo no mercado europeu em decorrência ao surgimento do açúcar de beterraba.
Assim, no século XIX, o açúcar deixa de ser principal produto nacional papel que passa, então, a ser exercido pelo café.
Autoria: Fabíola Schwartz
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