sábado, 22 de fevereiro de 2020

Anarquismo no Brasil

Professor de Matemática no Colégio Estadual Dinah Gonçalves
E Biologia na rede privada de Salvador-Bahia
Professor Antonio Carlos carneiro Barroso
email accbarroso@hotmail.com
Extraído de http://www.alunosonline.com.br

Anarquismo no Brasil

Rainer Sousa


Greve de 1917, mobilização incentivada pela ação anarquista.
No final do século XIX, a Itália foi palco de um conflituoso processo de formação de seu Estado. A industrialização e a mudança para uma economia integrada à lógica capitalista foram responsáveis pela situação de miséria de vários cidadãos italianos. Proletários e camponeses italianos, amedrontados por essa situação de miséria e exclusão, vieram parar no Brasil em busca de novas oportunidades de trabalho e melhores condições de vida.

Mais do que carregando sonhos e um amontoado de bagagens, muitos desses italianos trouxeram as idéias dos grupos políticos derrotados durante a unificação italiana. Entre algumas destas idéias, destacamos o ideal anarquista, que a despeito das formas de poder da época, defendiam a ausência de qualquer instituição política. Na perspectiva anarquista, o Estado seria, antes de tudo, um instrumento repressor preservado em função dos grupos que o legitimavam.

Em meio à ascensão do capitalismo, os anarquistas também enxergavam a burguesia como principal grupo social responsável pela repressão da classe trabalhadora. Dessa forma, os governantes e burgueses eram dois sujeitos históricos a serem combatidos em prol da ascensão de uma sociedade anárquica, ou seja, livre de qualquer mecanismo de controle. Nos primeiros anos do século XX, o Brasil foi palco da ação do ideário anarquista trazido pelos imigrantes italianos.

Os grandes centros urbanos brasileiros viviam a formação de um parque industrial emergente, ávido por mão-de-obra. Carente de um conjunto de leis que preestabelecessem a relações trabalhistas, os operários sofriam muitos com os abusos que remetiam à formação das indústrias britânicas no século XVIII. Foi nesse contexto que os anarquistas italianos organizaram greves, publicaram panfletos e mobilizaram multidões atraídas pelos seus discursos.

Liderados pelos italianos Oreste Ristorie e Gigi Damiani, vários trabalhadores brasileiros mobilizaram-se em prol da causa anarquista. Em pouco tempo, alguns periódicos, como o La Battaglia e o Terra Livre, tornaram-se um dos principais interlocutores do anarquismo brasileiro do início do século XX. O efeito dessa mobilização ocorreu em 1907, quando uma grande greve parou as indústrias paulistas. Em reação a essa primeira grande manifestação, o governo aprovou a Lei Adolpho Gordo, que previa a expulsão dos estrangeiros envolvidos com a atividade grevista.

Esse primeiro movimento conseguiu flexibilizar as relações de trabalho e garantir algumas conquistas trabalhistas, como a jornada de oito horas diárias. Anos mais tarde, com o início da Primeira Guerra Mundial, novos conflitos vieram à tona. O aumento dos preços e o abuso dos donos de fábrica, que buscavam a ampliação dos lucros com a crise das grandes economias capitalistas mundiais, levantaram uma mova leva de protestos que chegou a mobilizar 25 mil trabalhadores no ano de 1917.

Nesse contexto, muitos anarquistas aproveitaram para difundir seu ideário. No entanto, a Revolução Russa, ocorrida naquele mesmo ano, abriu portas para que o comunismo se transformasse em uma corrente política vigorosa mediante o triunfo soviético. No final da década de 20, o anarquismo perdeu a força obtida na virada do século XIX. Com a ascensão do Estado Varguista, observamos o golpe final aos anarquistas no Brasil.

O governo de Getulio Vargas, utilizando de forte repressão e medidas populistas, conseguiu conter as instituições sindicais, grande palco de difusão do anarquismo. Além disso, as forças militares de Vargas empenhavam-se em extraditar aqueles que incendiavam as massas trabalhadoras. Em 1936, Oreste Ristori foi preso e mandado de volta ao seu país. Saiu de cena um dos principais articuladores do anarquismo brasileiro.

Os anarquistas, apesar de ser um grupo mais restrito na época, ainda utilizavam de pequenas encenações teatrais e panfletos para divulgar seus ideais. Em 1937, com a vinda da ditadura do Estado Novo, o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) tratou de dar fim a esses últimos focos de ação anarquista. Em meio ao desmando da ditadura de Getulio Vargas, o ideário anarquista perdeu seu vigor político.

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