segunda-feira, 11 de maio de 2020

Cabanagem


A Cabanagem mobilizou uma ampla parcela das classes subalternas paraenses.
Entre os principais conflitos do período regencial, a Cabanagem ganha especial destaque em função de sua trajetória de caráter popular. Na região, que hoje compreende as regiões do Pará e do Amazonas, a economia vivia em função de atividades extrativistas e o cultivo de culturas de cacau, algodão, tabaco e arroz. Além disso, a cidade de Belém estabelecia-se enquanto ponto maior das atividades comerciais controladas por portugueses e britânicos.

Na época, a estrutura econômica excludente e dependente da agricultura agro-exportadora concebia um cenário de desolação sócio-econômica das camadas populares. Ao mesmo tempo, a distância e a falta de assistência do governo central gerava um clima de animosidades por parte das esferas de poder local. Nesse contexto, temos um primeiro episódio conflituoso, quando em 1832 os paraenses pegam em armas para impedir a posse de um governador nomeado pelo governo regencial.

Resistindo à insatisfação dos paraenses, a regência nomeou o conservador Bernardo Lobo Sousa para governar o Grão-Pará. Impondo uma política essencialmente repressora, Bernardo Lobo perseguiu sistematicamente aqueles que oferecessem qualquer tipo de ameaça à sua autoridade. Tamanha inflexibilidade somente aumentou as tensões internas, que viriam a eclodir tempos depois.

No ano de 1835, um grupo de revoltosos tomou a capital Belém de assalto e assassinou o então governador da província. Nesse momento, lideranças da elite e das camadas populares surgiram com certa expressão. Resistindo ao movimento das forças regenciais, os cabanos entregaram o poder nas mãos do fazendeiro Félix Antônio Malcher. Em pouco tempo, as reivindicações mais profundas dos populares instigou a saída dos grandes proprietários desse movimento.

A partir de então, o comando da Cabanagem cai nas mãos dos Irmãos Vinagre e do seringueiro Eduardo Angelim. No meio tempo em que a rebelião se reorganizava, o governo regencial enviou tropas lideradas pelo mercenário inglês John Taylor. A vitória das forças oficiais não veio a se estabelecer de forma plena. Comandando mais de 3 mil populares, Eduardo Angelim conseguiu reaver o controle da capital paraense.

A chegada de Angelim ao poder dava pistas de uma vitória do levante popular. No entanto, a ausência de outras províncias participantes e a instabilidade política dos poderes instalados acabou esfriando o potencial revolucionário do movimento. No ano de 1839, a Cabanagem chegava ao seu fim com um trágico saldo de 30 mil mortos.
Por Rainer Sousa
Mestre em História

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