1. Portugal e as Grandes Navegações
Para realizar as Grandes Navegações, os portugueses organizaram sucessivas expedições que devassaram o litoral atlântico africano. Depois, penetrando o Oceano Índico, navegaram até Calicute, na Índia.Coube a Portugal o pioneirismo e a liderança inicial no processo de expansão mercantil européia, desenvolvendo o Ciclo Oriental de Navegações, isto é, um conjunto de expedições marítimas procurando chegar ao Oriente; navegando no sentido sul-oriental, o que implicou, inicialmente, o desenvolvimento do litoral africano.
O pioneirismo português nas Grandes Navegações deveu-se a um conjunto de fatores, tais como a centralização política, resultando na formação de uma monarquia nacional precoce. Esse processo iniciado ainda na dinastia de Avis, depois da Revolução de 1385. Os reis de Avis, aliados à dinâmica burguesia mercantil lusa, voltaram-se para a empresa náutica planejando as atividades do Estado no sentido de desenvolvê-la, a partir dos incentivos aos estudos e à arte náutica: estes ficaram a cargo do príncipe-infante D. Henrique – o Navegador – que em 1418 criou a “Escola de Sagres”, denominação figurada de um grande centro de estudos náuticos situado no promontório de Sagres. Portugal gozava nessa época de uma situação de paz interna: além disso, sua posição geográfica privilegiada – as terras mais a oeste da Europa – na rota Mediterrâneo-Atlântico possibilitou uma certa tradição ao comércio marítimo através de vários postos comerciais relativamente desenvolvidos.As Grandes Navegações e as conquistas portuguesas
Os portugueses lançaram-se aos mares, dando início ao “Ciclo Oriental”, e promovendo o devassamento do litoral africano. Neste ciclo, destacam-se as seguintes conquistas: em 1415, uma expedição militar tomou Ceuta (Noroeste da África), na passagem do Mediterrâneo para o Atlântico, uma cidade para onde convergiam as caravanas de mercadores mulçumanos transaarianos, e que dava a Portugal o controle político-militar do estreito de Gilbratar. Essa vitória, embora seja considerada o marco inicial da expansão marítima lusa, redundou em fracasso comercial, uma vez que as caravanas africanas desviaram o tráfico mercantil para outras praças ao norte do continente. Procurando atingir as regiões produtoras das mercadorias africanas, os portugueses passaram a contornar gradativamente a costa atlântica da África.
Em 1434, o navegador Gil Eanes atingiu o Cabo Bojador (à frente das Ilhas Canárias). Logo após, em 1445, os portugueses atingiram a região do Cabo Branco, onde fundaram a feitoria de Arguim. Paralelamente à conquista desses pontos no litoral africano, os portugueses foram conquistando e anexando as Ilhas Atlânticas: em 1419, o arquipélago da Madeira; em 1431, os Açores; e em 1445, as Ilhas de Cabo Verde. Nestas ilhas, foram introduzidas a lavoura canavieira e a pecuária, fundadas no trabalho do escravo africano, e sendo aplicado pela primeira vez o regimes de capitanias hereditárias.
Procurando um novo caminho para as Índias, em 1452, os navegadores lusitanos penetraram o Golfo da Guiné e atingiram o Cabo das Palmas; alguns anos mais tarde (1471), ultrapassaram a linha do Equador, penetrando no Hemisfério Sul. Em 1482, na costa sul da África, Diogo Cão atingiu a foz do Rio Congo e Angola, onde foram fundadas as feitorias de São Jorge da Mina; Luanda a Cabinda, locais em que se praticavam o comércio de especiarias e o tráfico negreiro.
Em 1488, Bartolomeu Dias atingiu o Cabo da Boa Esperança (Tormentas), completando o contorno do litoral atlântico da África (Périplo Africano). Dez anos mais tarde (1498) Vasco da Gama navegou pelo Índico e atingiu Calicute, na Índia. A partir daí, Portugal encetou sucessivas tentativas de formação do seu Império no Oriente. A primeira grande investida deu-se em 1500, com a organização de uma grande esquadra militar comandada por Pedro Álvares Cabral; desta expedição, temos a “descoberta” do Brasil e, depois, a tentativa cabralina de se fixar no Oriente.
Entre 1505 e 1515, Francisco de Almeida e Afonso de Albuquerque – este último, considerado o fundador do Império Português nas Índias – obtiveram sucessivas vitórias no Oriente, estendendo as conquistas lusas desde o Golfo Pérsico (Aden) à Índia (Calicute, Goa, Damão e Diu), ilha do Ceilão e alcançando a Indonésia, onde conquistaram a ilha de Java. Onde não foram obtidas conquistas militares, foram firmados acordos comerciais como é o caso da China (Macau) e Japão, entre 1517 e 1520. Mesmo baseados em um sistema de lucrativas feitorias, os gastos com as despesas militares e com a burocracia afligiam o Império Oriental Português. A partir de 1530, esses gastos, aliados à queda de preços das especiarias na Europa e à concorrência inglesa e holandesa, inviabilizaram sua sobrevivência. No século XVII, o vasto Império Luso já estava desmantelado.
2. As Grandes Navegações espanholas
Até 1942, os espanhóis lutavam contra os invasores mulçumanos. Nesse ano a vitória espanhola retomando Granada, o último reduto da península em poder dos invasores, assegurou a consolidação da monarquia nacional da Espanha, tornando possível o Ciclo Ocidental de Navegações.A Espanha teve sua participação retardada no processo expansionista. A longa luta de reconquista contra os invasores mulçumanos que dominavam a península desde o século VIII e as lutas internas entre os reinos hispânicos cristãos impediam a unidade política e, consequentemente, a formação da monarquia nacional espanhola. A unificação política da Espanha ocorreu somente em 1469, com o casamento dos reis católicos, Fernando, de Aragão, e Isabel, de Castela. Com isso, os espanhóis se fortaleceram e investiram contra os invasores que ocupavam ainda o sul da península e, após sucessivas vitórias, tomaram Granada (1492), último baluarte da dominação moura no continente europeu.
A partir daí, desenvolveu-se uma orientação uniformizada possibilitando o fortalecimento da burguesia mercantil, anteriormente beneficiada por medidas pontuais dos reinos de Castela e Aragão: no caso deste último, destaque-se a expansão mediterrânea no século XIV, levando os mercadores aragoneses até a Sicília onde comercializavam panos, gêneros alimentícios e especiarias. Em 1492, patrocinado pelos Reis Católicos, Cristóvão Colombo, um navegador genovês, deu início ao Ciclo Ocidental de Navegações, que consistia na busca de um caminho para o Oriente, navegando para o Ocidente.
Em 12 de outubro de 1492, Colombo atingia a Ilha de Guanananí (São Salvador), realizando o primeiro feito significativo das Grandes Navegações espanholas, ou seja, o descobrimento da América. Acreditando ter atingido as Índias, Colombo realizaria ainda três viagens à América, tentando encontrar as “ricas regiões do comércio oriental”. No final de 1499, Vicente Yañez Pinzon, um dos comandantes de Colombo na viagem de descoberta da América em busca de um caminho que o levasse ao Oriente, atingiu a foz do rio Amazonas (Mar Dulce), colocando-se, portanto, como predecessor de Cabral no descobrimento do Brasil. Em 1513, ainda em busca de uma passagem para o Levante, Vasco Nuñes Balboa cruzou o istmo do Panamá o Oceano Pacífico. Outra empresa importante, relacionada à expansão marítima espanhola, foi a realização da primeira viagem de circunavegação iniciada em 1519 por Fernão de Magalhães, um navegador português a serviço da Espanha, e completada por Juan Sebastião Elcano, em 1522. Após 1.124 dias de navegação pelos mares desconhecidos, os espanhóis atingiram as ilhas das especiarias orientais pelo Ocidente, além de comprovar a esfericidade da Terra.
As grandes conquistas espanholas
Mesmo com o controle de importantes pontos comerciais no Oriente (Filipinas e Bornéo) obtidos no decorrer do século XVI, os espanhóis voltaram-se basicamente para o Ocidente, onde deram início à colonização da América• Nessa empresa, os seus esforços se concentraram principalmente no México e no Peru.
O México foi a primeira área a ser conquistada entre 1518 e 1525, sob a liderança de Fernan Cortéz. Essa empreitada implicou a destruição do Império Asteca e sua capital Tenochititián, onde ficaram célebres a ferocidade e a crueldade dos conquistadores europeus. A conquista do Peru está. relacionada ao avanço dos espanhóis sobre o Império Inca, cuja capital era Cuzco. Entre 1531 e 1538, Francisco Pizarro e Diego de Almagro destruíram um dos mais importantes impérios pré-colombianos, o que garantiu a expansão do domínio espanhol sobre o Chile, Equador e Bolivia, numa ação marcada também pela brutalidade do conquistador. Nessas duas áreas, ricas em ouro e prata, teve início a exploração das minas, com o uso intensivo do trabalho compulsório do nativo.
As colônias espanholas na América foram divididas inicialmente em dois vice-reinados: o de Nova Espanha (México) e do Peru. Criados respectivamente em 1535 e 1543, os vice-remos eram subordinados diretamente ao Real e Supremo Conselho das Indias, órgão governamental ligado diretamente ao rei e encarregado de tudo quanto se relacionasse com a América. No século XVffl foram criados mais dois vice-remos: o de Nova Granada (Colômbia) e do Prata (Argentina).
Os espanhóis esperavam atingir o Oriente navegando para o Ocidente. Em busca de uma passagem que o levasse às “Indias”, além da viagem de 1492, que resultou no descobrimento da América, Cristóvão Colombo realizou mais três viagens ao Novo Mundo.
Colombo nunca encontrou o caminho para as “Índias”. Acabou morrendo velho e abandonado no convento de Valladolid.
A conquista dos antigos impérios pré-colombiano, pelos espanhóis, implicou a destruição das populações indígenas.
3. A partilha das terras descobertas nas Grandes Navegações
A rivalidade entre Portugal e Espanha pela disputa das terras descobertas de origem a uma série de tratados de partilha. Em 1480, antes da fase mais intensa das navegações espanholas foi firmado o Tratado de Toledo, pelo qual Portugal cedia à Espanha as ilhas Canárias (Costa da África), recebendo em troca o monopólio do comercio e navegação do litoral africano ao sul da linha do Equador.A descoberta da América serviu para aumentar a rivalidade entre os dois paises e exigiu um novo tratado. Desta feita, o Papa Alexandre VI (cardeal aragonês) atuou como árbitro através da Bula Inter Coetera 1493. Uma linha imaginária foi traçada a 100 léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde: as terras situadas a oeste da linha demarcatória ficariam para a Espanha, cabendo a Portugal as terras a leste, ou seja, o mar alto, o que gerou protestos de D. João II, o rei de Portugal.
Em função da reação portuguesa foi estabelecida uma nova demarcação que ficou conhecida como Tratado de Tordesilhas (1494). A linha imaginária passaria agora a 370 léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde: a porção ocidental ficaria pertencendo à Espanha, cabendo a Portugal a porção oriental. Dessa forma, parte das terras do Brasil passavam a pertencer a Portugal. Contudo, a linha de Tordesilhas, que, provavelmente, passaria por Belém, ao norte, e por Laguna, no litoral catarinense, nunca foi concretamente demarcada.
A presença espanhola no Oriente, depois da viagem de Fernão de Magalhães, exigiu também a demarcação da parte oriental do planeta, através do Tratado ou Capitulação de Saragoça (1529). Por este acordo, uma linha imaginária dividiria o mundo oriental entre Espanha e Portugal, a partir das Ilhas Molucas.
A divisão do mundo entre portugueses e espanhóis desencadeou a reação da França, Inglaterra e Holanda, países marginalizados pelos tratados de partilha. Daí, a sucessão de ataques corsários e as invasões das possessões ibéricas na América, África e Ásia.
4. As conseqüências da expansão marítima.
As Grandes Navegações e Descobrimentos modificaram de forma significativa o mundo até então conhecido. Dentre as principais conseqüências da expansão européia devem ser destacadas:♦ O deslocamento do eixo econômico europeu do Mediterrâneo para o Atlântico-Índico, com a ascensão dos países ibéricos e a conseqüente decadência das cidades mercantis italianas.♦ A consolidação do Estado Absolutista, típico da Época Moderna, que depois de patrocinar o movimento expansionista, passou agora a usufruir dos seus lucros.,
♦ Adoção da política econômica mercantilista, baseada no protecionismo do Estado e no regime de monopólios.
♦ A formação do Sistema Colonial Tradicional vinculado à política econômica mercantilista e responsável pela colonização da América.
♦ O renascimento da escravidão nas áreas colônias nos moldes do capitalismo moderno, com a utilização intensiva da força de trabalho indígena e africana.
♦ O fortalecimento da burguesia mercantil nos países atlânticos.
♦ Início do processo de europeização do mundo, especialmente, com a expansão do cristianismo.
♦ A destruição das avançadas civilizações pré-colombianas existentes na América.
♦ A expansão do comércio europeu (Revolução Comercial), dentro de uma nova noção de mercado, agora entendido em escala mundial.
♦ Aceleração da acumulação primitiva de capital, realizada através da circulação de mercadorias.
♦ Revolução dos Preços, provocada pelo crescente afluxo de metais preciosos provenientes da América.
5. O atraso da Inglaterra, França e Holanda nas Grandes Navegações
Diversos fatores contribuíram para o retardamento da participação Inglesa francesa e holandesa na expansão mercantil, dentre eles a Instabilidade política e econômica, a inexistência de uma monarquia centralizada, aliada aos interesses das burguesias nacionais e às resistências feudais. Inglaterra
Além do desgaste na Guerra dos Cem Anos (1337-1453), travada contra a França, a Inglaterra sofreu os efeitos da Guerra das Duas Rosas (1455-85) retardando assim sua presença nas Grandes Navegações, que somente ocorreria a partir do reinado de Henrique VII (Tudor), estimulada pelo êxito ibérico: com a viagem dos italianos João e Sebastião Caboto (1497-98) foi atingido o Labrador, no Canadá; entre 1584 e 1587, Walter Raleigh fundou a colônia da Virgínia, o primeiro núcleo colonial inglês, além de tentar fundar colônias na Flórida. A partir daí, e até 1740, serão formadas as 13 colônias inglesas da América do Norte.
Um dos feitos mais importantes das navegações inglesas foi a segunda viagem de circunavegação, realizada por Francis Drake, entre 1587 e 1590.
França
Seu atraso deveu-se aos problemas que marcaram o processo de centralização monárquica, dificultado pela nobreza, e aos efeitos devastadores da Guerra dos Cem Anos. As Grandes Navegações francesas começaram no século XVI, apoiadas pela dinastia Valois e com a participação de navegadores estrangeiros.
Em 1523, o italiano Verrazano atingiu o litoral do Canadá e o norte dos EUA. Em seguida, Jacques Cartier penetrou o rio São Lourenço, fundando em 1534 a colônia de Nova França, o primeiro estabelecimento francês na América. Em 1604, já sob o governo dos Bourbons, os franceses ocuparam a Guiana e em 1608 fundaram a colônia de Quebec, no Canadá. Ainda neste século, penetraram o rio Mississipi e fundaram os núcleos de Saint Louis e Nova Orleans, embrião da colônia da Louisiana. Além disso, os franceses fizeram duas tentativas de colonização no Brasil: no Rio de Janeiro (1555-67), com a França Antártica, e no Maranhão (1612-15), com a França Equinocial, ambas de curta duração. A penetração do Oriente começou no reinado de Luís XIV com a conquista de parte da Índia.
Holanda
Mesmo com uma sólida tradição mercantil, os holandeses eram dominados pela Espanha. Sua independência somente ocorreria em 1581, com o surgimento das Províncias Unidas dos Países Baixos do Norte (Holanda). A partir daí, foram criadas as Companhias de Comércio, das Índias Orientais (E.I.C.) e das Indias Ocidentais (W.I.C.), responsáveis pela penetração no bloco colonial ibérico.
Em 1626, os flamengos entraram para as Grandes Navegações e atingiram a América do Norte, onde fundaram a colônia de Nova Amsterdã, que depois de tomada pelos ingleses passou a se denominar Nova York. Entre 1624 e 1654, a W.I.C. realizou duas invasões no Nordeste brasileiro, buscando o controle da produção açucareira e, ao mesmo tempo, incursões na África portuguesa, nas Antilhas espanholas e no Oriente. Na América do Sul, em sua parte setentrional, criaram a Guiana holandesa, atual Suriname. No século XVII, os holandeses controlavam um grande império colonial, especialmente nas Índias Orientais.
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